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sábado, 31 de março de 2012

TEXTOS FREI MAURO STRABELI (MARÇO 2012): "OS EVANGELHOS de MATEUS, MARCOS e LUCAS" - 1ª PARTE DO DOCUMENTO:


                        ESCOLA DE TEOLOGIA PARA LEIGOS
                       OS EVANGELHOS DE MATEUS, MARCOS E LUCAS
            A Palestina no tempo de Jesus (pequena introdução do contexto histórico)
No tempo de Jesus a Palestina não tinha esse nome. Chamava-se ‘terra de Israel” (em hebraico: érets ysrael). O nome Palestina procede do historiador grego Heródoto que designava o país como “país dos filisteus”. Filisteus era o povo que habitava a costa do Mediterrâneo da atual Palestina vivendo em constantes atritos, guerras e retaliações com o povo hebreu. Filisteu se diz phillistim em hebraico; daqui, o nome Palestina.
Para entender o Novo Testamento é preciso conhecer um pouco da história  político-social e religiosa da terra de Israel no primeiro século da era cristã.
Até há pouco tempo a única fonte de informação sobre esse período era Flávio Josefo, historiador e apologeta judeu-romano. Suas obras mais importantes são “A Guerra Judaica” e “Antiguidades Judaicas”.  A primeira trata da revolta judaica contra Roma (66-70); a segunda narra a história do mundo segundo a concepção judaica. Elas fornecem informações sobre a sociedade judaica desse período bem como falam do surgimento do cristianismo. Hoje em dia com os avanços das descobertas arqueológicas, é possível conhecer melhor a história daquele povo.
     1.1   A terra de Israel ou Palestina
É um país pequeno; tem a forma de um trapézio de 300 km; é mais extenso no sul, com uma base de mais ou menos 160 km, e no norte tem cerca de 50 km.  De Nazaré ao norte, até Jerusalém, no sul são 157 km. De Nazaré onde morava Jesus ao lago de Tiberíades, são 29 km. É um país “andável”, como diz Jean-Paul Michaud (cf. Odette Mainville (org)  p.17). Por isso Jesus o percorreu com os apóstolos  sem muita dificuldade. Como Jesus morava em Nazaré e os apóstolos moravam também nessa cidade ou nas pequenas cidades do lago (Cafarnaum, Betsaida, Corazim, Magdala), nunca estavam longe de suas casas e famílias.  Por isso a itinerância de Jesus não deve ter sido tão grande e desgastante como às vezes se fala!
O país é cortado  pelo rio Jordão que nasce no norte, aos pés do monte Hermon e  depois de um curso de 350 km  deságua no Mar morto, que fica  a 440 m abaixo do nível do mar. Por isso o  nome do  rio  é Jordão (=yarden) significa aquele  que desce. (A cidade de Jerusalém está a 800m acima do nível do mar).
A história do povo hebreu se desenvolve nesse cenário geográfico da érets ysrarel.
1.2              O mundo greco-romano
O imperador Alexandre Magno (356-333 aC)  fundou o mais vasto império do Ocidente e quis formar um Estado único, sob uma única língua, a grega. Essa língua popular chama-se koiné, que significa comum. Nessa língua vão ser escritos os livros do NT.   Na Palestina, porém, conservou-se o aramaico que era a língua popular e o hebraico que era usado nas sinagogas.  O grego koiné, comum, era também conhecido pelos judeus; talvez não pelo povo simples. Os judeus gregos (aqueles que deixaram a Palestina e foram para Alexandria no Egito, constituindo assim chamada Comunidade da Diáspora (que significa  dispersão, migração), esses judeus traduziram a Bíblia hebraica para o grego koiné. Essa tradução famosa chama-se Septuaginta ou Bíblia dos Setenta (LXX) (porque a lenda diz que foram 72 rabinos que a traduziram,  6 de cada Tribo).
Com a morte de Alexandre, o reino foi dividido entre seus generais.
No tempo de Jesus o país estava sob o domínio dos romanos, que haviam tomado o poder local com Pompeu em 63 aC.
 Para não revoltar o povo o imperador e o Senado romanos reconheceram Herodes, como rei dos judeus. Era, porém um rei manipulado, mantido sob a tutela romana, dependente de Roma. Ele tinha liberdade limitada, apenas para decidir sobre questões administrativas locais, jurídicas e militares. Herodes não era judeu, era idumeu, não observava muito as leis e costumes judaicos. (Esse Herodes é lembrado em Mt 2 (magos) e em Lc 1,5 (Zacarias pai de João Batista).   Jesus nasceu nesse tempo.
Quando Herodes morreu, o reino foi dividido entre seus três filhos Arquelau, Herodes Ântipas e Felipe (lembrados em Lucas 3,1). O imperador  Augusto não reconheceu Arquelau e lhe deu apenas um título, o de etnarca da Galiléia, Samaria e Iduméia  (ethné=povo; arché =  principio, governo = governador do povo),  não  lhe deu o título de rei; não mandava nada.  Herodes Ântipas  (abreviação de Antípatro (pai de Herodes) foi nomeado tetrarca (tetra= 4; arché = princípio, governo) isto é rei de quatro partes do império (Esse Herodes lembrado em Mt 14 e Mc 6 = Herodíades; Mc 8,15 (fermento de Herodes); Lc 3 (governador da Galiléia), Lc 8,3 (Joana mulher do funcionário de Herodes),   Lc 9,9 (mandou matar J. Batista); Lc 23,7 (recebe Jesus mandado por Pilatos).  Atos 12 fala que foi Herodes Agripa que mandou matar Tiago e prendeu. (Parece  ser o mesmo Herodes Ântipas).
1.3  Os procuradores
 Os procuradores foram governadores estabelecidos duas vezes por Roma na Palestina.  Primeiramente na Judéia (de 6 a41) e depois sobre toda a Palestina (de 44 a 66).
Como é sabido, tais procuradores exploravam o povo, o que deu origem a movimentos extremistas, como Judas, o Galileu
Os excessos continuados dos procuradores exasperaram a população, que se revoltou,  e a revolta deu origem à guerra contra Roma em junho de 66. O general Vespasiano, cercou a cidade, mas foi aclamado imperador e foi para Roma. Assumiu o comando da guerra o filho dele,Tito.  Em 70 ele incendiou o Templo e dominou a cidade. O último foco de resistência que estava sediado na fortaleza de Massada., foi dominado e massacrado. O país passa então a ser província imperial romana.


           1.4  A Palestina sob a ocupação romana
Como foi lembrado, a proposta de Jesus (Evangelho) não pode ser entendida sem a moldura histórico-social de seu tempo. A sociedade político-religiosa foi o “lugar” onde ele atuou. Foi a partir desse “lugar” que ele pôde propor a sua mensagem.  Vejamos, então, alguns aspectos sócio-econômicos de seu tempo.
No século I (do cristianismo) quando Jesus aparece em cena,  a Galiléia e a Judéia foram feitas províncias romanas forçadamente.  Roma impõe costumes pagãos, leis políticas e sociais e tenta influenciar na religião. Tenta,  de maneira velada e jeitosa,   matar a  cultura e as tradições religiosas do povo. O meio para sufocar a nação foram os impostos e tributos que os romanos  impuseram. E no tempo de Jesus eram estes:
                        - O imposto direto (que incidia sobre as propriedades e pessoas); eram dois: tributum soli (imposto sobre a propriedade)  e tributum capitis ( sobre as pessoas).  O primeiro imposto dependia do tamanho da propriedade e do número de escravos. Os fiscais romanos  (ou judeus)  iam verificar e fixavam a taxa. As propriedades eram também cadastradas! (INCRA!).  O segundo imposto era sobre as pessoas pobres, de 12 a 65 anos. 20% da renda de uma pessoa pobre era para o Estado! Os pobres,  não tendo propriedades, deviam pagar uma taxa sobre seu pouco salário.  Pagavam imposto por serem pobres !!
                        - O  imposto indireto (que incidia sobre transações comerciais). Eram seis: coroa do imperador: imposto ou presente ao imperador em festas oficiais ou pela mvisita dele a cidades, lugares ou pessoasou visitas; imposto sobre o sal, que era monopólio do imperador; imposto na compra e venda: em cada transação 1% era do Estado; era cobrado nas feiras também; na compra ou venda de escravo a porcentagem era de 4%. Imposto de 2% de registro: sobre contratos comerciais. Imposto de 1% para exercer profissão: qualquer profissão, até a de  prostitutas. Imposto para uso de  bens públicos (casa de banhos, sanitários públicos, a água corrente...)
                        - As Taxas de pedágio e alfândega: sobre circulação de mercadoria. Era cobrado pelos publicanos.  Trabalho forçado: toda pessoa era obrigada a trabalhar de graça para o Estado 5 dias por ano. Despesa para o exército: o povo era obrigado a dar hospedagem gratuita para os soldados e o povo da zona rural era obrigado a fornecer a comida para as tropas.
                        - Impostos religiosos:  era cobrado em dinheiro para manutenção e conservação do Templo. Dízimos: impostos para o sustento dos sacerdotes e famílias. Primícias: entrega das primeiras colheitas para manutenção do culto.
(Sobre o tema, cf  C. Mesters, Com Jesus na contramão, EP, 1995, p. 132-133).
O povo empobrecia cada vez mais. Alguns políticos romanos e alguns dos judeus importantes e amigos dos romanos passaram a controlar toda a terra e se tornaram grandes latifundiários na nação. Não havia empregos, a não ser o de  “diarista”, “peão”, como se pode perceber na parábola dos trabalhadores  na vinha (Mateus 20,1-16).
                        Ainda mais: o povo ficou muito marcado  com o recenseamento (censo oficial) feito por Quirino  (Lucas 2,1-2) em nome do imperador romano. A finalidade do censo era  não só a de cadastrar as pessoas mas também  conhecer seus bens para depois taxar com os devidos impostos. O povo sentia-se controlado pelo poder estrangeiro e muito afrontado na sua dignidade e na sua fé, pois a terra era deles, era dom de Deus aos pais, era herança. Taxar a terra era uma profanação para eles.Mas os chefes judeus ( Herodes e a aristocracia sacerdotal) aceitavam tudo isso tranqüilamente, pois lucravam também.
                        Esse estado de coisas provocou a revolta do povo. A Galiléia era um foco de rebeliões. A opressão, as revoltas  sufocadas, fizeram renascer no povo a. esperança messiânica de libertação: surgiria um libertador, enviado por Deus, para arrancar o povo das mãos dos romanos. Ali surgiu então Judas, o galileu  que se revoltou publicamente mas foi dominado e morto pelos romanos, ele e os seus seguidores (Atos 5,37).
                        Jesus viveu todos esses acontecimento; sentiu a opressão do povo e entendeu por quê o povo quis fazê-lo rei, embora não aceitasse (João 6,15).
             1.5  O modo de produção
A agricultura entre os judeus era bastante primitiva. A produção era portanto escassa;  a terra era também ruim. A produção não atendia à procura e  às necessidades da população. Havia fome entre o povo (Mateus 15,32 e Marcos 8,2 = tenho compaixão desse povo..). Os altos impostos obrigavam os pequenos agricultores a venderem suas propriedades aos latifundiários e passarem a viver como diaristas, bóias-frias.  Isso gerava pobreza extrema e mendicância, principalmente ao redor do Templo (Lucas 18,35 e Atos 3,2-4 = cegos e paralítico)
Os grandes proprietários moravam na cidade e suas propriedades eram tocadas por capatazes, quase sempre prepotentes. A parábola do rico egoísta lembra esses tipos (Lucas 12,16-21; 12,42);  a parábola do administrador infiel é um retrato também desse costume.
Dessa situação de penúria nasce o desespero do povo que vai culminar com a revolta popular contra Roma e provocar a destruição da cidade de Jerusalém no ano 70 dC.
O clima social era tenso, inquieto e perigoso. Por isso os Sumos sacerdotes e o Sinédrio procuravam ter cautela em relação a Jesus e aos apóstolos, quando Jesus começa a pregar o Reino messiânico. Temiam desencadear uma revolução ( Atos 5,26; 4,17.21) pois Jesus era estimado pelo povo que o seguia e o ouvia com gosto (Mateus 15,38; Marcos 6,44).

1.6   O povo diante desse estado de coisas
 Os  romanos cobravam imposto de tudo - como se disse acima.  Para realizar esse trabalho eles contratavam cobradores entre os próprios  judeus , tentando amenizar o impacto. As pessoas aceitavam esse trabalho, embora odiado, pois não havia emprego. Qualquer trabalho era aceito.  Daí que tais cobradores eram odiados pelo povo. Aproveitando a ocasião tais fiscais desviavam  dinheiro, extorquiam, subornavam. Tudo isso os tornava mais odiados  ainda, pois se beneficiavam explorando os próprios concidadãos e em nome do poder estrangeiro.
Os dirigentes (Sumos sacerdotes, Sinédrio, aristocracia, latifundiários)  também aproveitavam da ocasião para lucrar mais. O povo era de fato uma “ovelha sem pastor”(Marcos 6,34; Mateus 9,36). Não tinha dirigente, não tinha defensor. Por isso Jesus diz publicamente:  “Tenho dó desse povo...”(Mateus 15,32).         
As autoridades judaicas entregavam o povo nas mãos dos estrangeiros  sem nenhum constrangimento.  Eram verdadeiros mercenários, como os classifica Jesus (João 10,11-13)  na parábola do Bom pastor.
Muita gente, apesar de tudo, ainda acreditava que era livre e dizia quando Jesus tentava abrir-lhe os olhos:  “nós nunca fomos escravos de ninguém” (João 8, 33), embora contradizendo-se ao afirmar:  “não temos outro rei senão César”  (João 19,15). O povo vivia na contradição: explorado, dominado, cego, mas pensando ser livre e de olhos abertos!
Para manter o  povo dominado, Roma apoiava os líderes locais, ricos, influentes;  mas acampava exércitos na Palestina  e   ao mesmo tempo  deixava o povo ter a ilusão de liberdade, dando-lhe  um  “rei”  judeu  (Herodes,    rei  fantoche, manipulado, e nem era judeu, era idumeu)
Esse estado de coisas, vai ser matriz  -  como se disse -  da revolta popular contra Roma e ocasião de os romanos destruírem  Jerusalém , matarem grande parte da população e  exilar outro tanto.
1.7   O Templo
O Templo de Jerusalém era considerado o lugar da presença de Deus; era o espaço do sagrado, o lugar  da Shekiná  ( =  presença gloriosa de Deus).  Era ainda o lugar  da oração, dos sacrifícios, das purificações legais, das peregrinações. Enfim, era a alma da vida religiosa, política e econômica do povo judeu.
Por ser o Templo também o centro econômico do país, uma espécie de Banco Central, era  um lugar de muito movimento,  de negócios, troca de dinheiro, câmbio, aplicações. E tudo isso  estava nas mãos da alta hierarquia sacerdotal.  O Templo era,  ainda, sede da autoridade política e religiosa, centro ideológico da nação,  e portanto, lugar de manobras, conchavos e corrupção. Isso tudo fazia do Templo um grande perigo e  grande ameaça para os romanos.
Para Jesus, o Templo - que representava a dominação, a prepotência, a manipulação do povo, a hipocrisia -  seria derrubado, destruído. Não só como edifício mas principalmente como ideologia dominadora  (Marcos 13,1-2).

2.    Jesus e as tensões sociais de seu tempo
            2.1  Os escribas
Os escribas também faziam parte  do Sinédrio,  onde tinham muita influência. Eram intelectuais pelo seu conhecimento da Lei, por sua  interpretação (nem sempre autêntica, porém; tantas vezes distorcida propositadamente). Gabavam-se de sua ciência e de sua influência na vida do país, pois toda a vida nacional era regida pela lei religiosa. Eles são conhecidos também pelo nome de “doutores da lei”. Faziam parte do gru´po dos fariseus; era a ala intelectual que conhecia e explicava a Lei. Foram grandes adversários de Jesus, criticando-o sempre, exatamente porque Jesus propunha outro tipo de observância da Lei: não pela letra mas pelo espírito.
Jesus censura e condena publicamente os escribas porque aproveitavam-se do fato de conhecerem a Lei para enganar o povo e impedi-lo de conhecer as Escrituras. Para tanto inventavam mil preceitos, tradições, costumes, além de fazerem interpretações tendenciosas. Eles amarravam as Escrituras e não suportavam Jesus que fazia da Palavra de Deus palavras de libertação. Louvavam os profetas  -  mas  por pura hipocrisia, diz Jesus, porque agora os profetas não os incomodavam mais  (Lucas 11,47-51).
Para  entender Jesus e a sua proposta ( o Evangelho)  é preciso ter em vista toda essa situação: clima de insatisfação do povo, pobreza, miséria, opressão, dominação, agitação, guerras...
Jesus está dentro dessa  situação. Vive-a mais que ninguém. Por isso tem condições para questionar esse estado de coisas, denunciar autoridades, dirigentes, sacerdotes  e propor as regras para uma nova sociedade, aquela sem dominadores, sem desigualdades, mas cheia de justiça, de fraternidade, de direito, de paz e de amor.  Essa proposta vai ser o centro de sua pregação sobre o Reino de Deus. Reino de Deus, para Jesus,  vem a ser  um tipo de vida totalmente contrária àquela que seu povo estava vivendo.  As parábolas que ele propõe têm esse fundo histórico-social.  Não são pura invenção para instruir (Por ex., a  parábola do juiz venal (Lc 18,2),  do administrador infiel (Mt 20,8),  de Lázaro pobre e do rico esbanjador (Lc 16,20-31) dos trabalhadores desempregados (Mt 20,1) etc.  Todas elas são um flash da situação existencial.
A pregação e a proposta de Jesus, têm uma dimensão sócio-política, apesar de ele não lutar pelo poder  - como os outros contestadores.
Embora seja uma crença bíblica de que Deus é quem dirige e governa seu povo (Salmos 22,28; 47,8;  59,13;  66,7;  96,10; 97, 1 etc) concretamente isso parecia não ser verdade.   Deus parecia governar seu povo de muito longe e através de mediações...  O poder, estava, de fato, nas mãos de uns poucos, que constituíam os fortes grupos dominantes.   Os principais grupos eram os fariseus e saduceus – além da classe sacerdotal

2.2              Os fariseus ( Odette, p 61)
Formavam um grupo religioso leigo. No tempo de Jesus eram muitos os fariseus, perto de cinco mil. O grupo era composto de escribas e de leigos de diversas classes sociais, sem muita formação. Viviam no meio do povo e eram muito estimados.  Dedicavam-se ao ensino da Lei e à sua observância até nos mínimos detalhes. Rezavam muito e em público;  jejuavam duas vezes por semana, faziam obras de caridade publicamente  (esmolas). Por tudo isso  eles tinham grande autoridade junto ao povo, o que lhes dava muita força política e religiosa.
Os fariseus viviam em grupos; consideravam-se  “separados” do modo  de viver do povo simples ( chamado na Bíblia: ‘am-há-aretz= povo da terra). O nome “fariseu” vem  da palavra hebraica   perushin” que quer dizer  exatamente isso: “separados”.
Os fariseus formavam juntamente com os escribas uma classe modesta, até “pobre” dentre o pessoal ligado ao ensino  da Lei. Eram artesãos.   E se valiam disso aproveitando das festas e banquetes a que eram convidados (por  serem benquistos pelo povo). Gostavam de serem chamados “Rabi” (= mestre) . Jesus os ataca e ridiculariza (Marcos 12,38-40; Lucas 20,45-47). A parábola do fariseu e do publicano é uma ilustração do modo de vida deles (Lucas 18,9-14).
 Como foi dito, eles foram adversários de Jesus exatamente porque a proposta de Jesus  - embora contrária à deles -  era muito bem recebida pelo povo.  Eram ciumentos, ciosos de sua religiosidade e por isso desprezavam os outros.

2.3  Os saduceus
Os saduceus faziam parte da classe rica; formavam o braço político da classe juntamente com os sumos sacerdotes, um pequeno grupo de escribas e pelos grandes proprietários de terra. Eles detinham o poder econômico da nação;   as altas funções sacerdotais   eram revezadas entre dois Sumos-sacerdotes, exatamente para manterem o poder entre eles e suas famílias. Esse cargo era, às vezes, comprado (João 18,13).  Juntamente com outros altos magistrados, os Sumos-Sacerdotes formavam o Sinédrio  (Senado).
Ao lado dessa classe rica (ligada à religião),  havia a classe rica leiga, formada pelos comerciantes, e  anciãos.
As duas classes, tanto a aristocracia sacerdotal, como a leiga, eram ligadas aos romanos por razões de poder e econômicas. Nicodemos, era um dos membros do Sinédrio (João 7,5); 3,1; 12,42).
 Os saduceus formavam um partido político forte e rico. Eram os donos e gestores do Templo e se enriqueciam com o comércio que era praticado ali. Religiosamente eram conservadores, apegando-se à Lei de Moisés, a Torá. Só aceitavam a Torá como livro sagrado. Mas só  na teoria, porque na prática eles não acreditavam em nada, negando especialmente  alguns dogmas religiosos do judaísmo como a  existência dos anjos e dos demônios, a ressurreição dos mortos, a predestinação. Julgavam tais crenças importações estrangeiras, principalmente da Pérsia.  A salvação, segundo eles, é vivida aqui. Os justos são recompensados por aqui mesmo (por ex. eles,  que são ricos porque são justos!);  os maus são castigados por aqui também (por ex. os pobres; são pobres porque são maus!). Defendiam a riqueza como sinal de bênção e de justiça (Nesse aspecto eles aceitavam a religião... manipulando-a em proveito próprio para justificar a própria riqueza)  Eles não esperavam Messias nenhum, nem libertação alguma. Não precisavam disso... Eles estavam bem, numa boa...
Foi esse grupo que condenou Jesus, pois Jesus dissera aos saduceus que o poder deles, no Templo e na política, era de Satanás pois o  poder deve ser serviço e não opressão  como o deles (Lucas 22,25-27).  E Jesus propunha o Reino para os pobres (Lucas 7,22 = Isaías 35,5-6) e não para os ricos (que a ele se fechavam).  O Reino proposto por Jesus era exatamente o contrário do reino proposto pelos dominadores: reino de amor e não de ódio; de fraternidade e não de exploração; de justiça e não de opressão; de paz e  não de guerra;  de partilha e não de avareza; de verdade e não de mentira...
Jesus criticou esse poder como  também criticou a riqueza: não se pode servir a dois senhores (Mateus 6,24) .  A riqueza é geralmente  construída sobre  a exploração e espoliação de muitos. Acumular é empobrecer diante de Deus. O poder é uma forma de riqueza; afasta de Deus. Para pertencer ao Reino de Deus é preciso ser pobre ( = não ganancioso, não opressor, despojado, aberto).
Esse tipo de proposta de Jesus é que levou essa classe a decretar sua morte.
3. O Judaísmo periférico
3.1 – O Movimento de João Batista

Na vida religiosa judaica eram fundamentais os ritos de purificação e as leis alimentares. Os grupos religiosos formados (fariseus, saduceus e essênios) discutiam esse tema como grande problema religioso. Mas o povo não se envolvia. E por não se envolver-se acreditava que estaria fora da rota da salvação, pois era Lei que salvava. Mas as multidões não eram indiferentes à religião e facilmente seguiam as figuras proféticas que eventualmente surgiam indicando caminhos de salvação. Entre esses caminhos o Movimento inaugurado por João Batista foi um dos mais fortes.
O povo pobre não podia pagar pelas transgressões da chamada “lei da pureza legal” (Lev. 11-15). Cada transgressão tinha seu preço a ser pago no Templo, para  a pessoa não ficar excluída da vida religiosa. O Movimento batista entra aqui: ensina um batismo em água corrente para perdoar todas as faltas. O povo pobre, soldados, acorriam a João Batista (Mt 3,5-6) para serem perdoados. João os acolhia a todos numa espécie de “confissão comunitária” do tempo.  Não acolhia apenas os fariseus e saduceus a quem chamava de hipócritas, pois que queriam aproveitar a ocasião  para se passarem por penitentes, convertidos.Por isso João os chamava ainda d “raça de cobras venenosas”  (Mt 3,4).
João pregava a penitência, o perdão dos pecados, a conversão e anunciava a iminência do Juízo de Deus, para que se convertessem.  A salvação se daria pela conversão do coração (Mt 3,1; Mc 1,4)   As pessoas aderiam a João levadas pela sua pregação direta e contundente, bem como pelo seu testemunho de vida  (Mt ao para e pouco se importa com os ritos de purificação que a tradição pregava e exigia (Lev 11-15).  Os essênios e outros grupos se apegavam muito às abluções e purificações para o perdão dos pecados. João Batista, não. Ele exige a conversão interior. E batizava, isto é fazia o seu rito de purificação dos pecados, mas somente uma vez e não como as reiteradas abluções que  os essênios por ex. faziam.
O Batismo de João é pois um batismo de água. Não é sacramento. É batismo sinal de mudança, lavagem interior, no coração. Por pregar um batismo para a remissão dos pecados, João enfrentava o grande poder religioso da época, simbolizado no Templo que ensinava que a salvação vinha dos sacrifícios oferecidos no Templo e não de doutrinas – embora nesse tempo  já havia certa resistência  ao costume de se oferecer sacrifícios cruentos no Templo como  meio de perdão dos  pecados. João rejeitava os sacrifícios cruentos por serem inacessíveis aos pobres, que são muito sensíveis à salvação. João pregava que  a salvação vinha pela confissão dos pecados e pelo batismo no Jordão (Mt 2,6). As multidões acorriam a ele. Também Jesus se fez batizar e também batizou, como protesto contra as leis opressoras  da pureza legal!  (Mt 3,13-17 e Jô 3,26 e 4,1). Essa posição de Jesus parece ser mais um apoio a João Batista que  mudava o foco da salvação: ela vinha não mais pelo Templo de Jerusalém, mas da própria conversão interior  O Batismo de Jesus vai seguir os passos da proposta de João Batista de perdão dos pecados e de conversão, mas com uma grande diferença  o batismo de Jesus na é um batismo  só de água, mas sim uma imersão na paixão morte e ressurreição do Cristo Jesus  (Rm 6,3-5).
3.2 – Os samaritanos
Os samaritanos formavam uma comunidade sediada na Samaria. Não eram judeus, porque não observavam todas as leis e costumes judaicos; tinham lugares sagrados próprios , como o Templo no  Monte Garizim)
A origem dos samaritanos é um tanto nebulosa. Parece ser opinião comum que a origem desse povo está ligada à conquista da Samaria em 722 pelos assírios, que levaram para o exílio grande parte da população deixando ali colonos assírios pata tocarem a terra. E dessa miscigenação de culturas e raças é que se formou o povo samaritano Por isso era um povo racialmente  impuro para os judeus.
Esse povo tinha uma fé que se baseava em cinco princípios: 1) Monoteísmo: Deus é um só, infinito e todo-poderoso; 2) Moisés é seu único profeta; 3) o Pentateuco é o único livro inspirado; 4) o Monte Garizim é o único lugar escolhido por Deus para ser cultuado; 5) Os mortos ressuscitarão para o último juízo. Esperavam também um messias libertador, que chamavam de taheb. Os samaritanos  estão presentes nos Evangelhos, sendo lembrados principalmente pelos episódios de Jesus e a samaritana (Jo 4,1-42), do leproso curado (Lc 17,16) e pela parábola do bom samaritano (Lc 10, 20-37
Por essas divergências religiosas os samaritanos mantinham distância do povo judeu,  bem como os judeus, de sua parte,  os consideravam hereges, traidores – como diz o Eclesiástico: “o povo idiota que habita Siquém” (Eclo 50,26).
            Conclusão:  Além dessas correntes religiosas, o NT vai encontrar a influência e autoridade do grupo conhecido por “essênios”, uma espécie de ordem monacal com tendências ascéticas e escatológicas; eram celibatários  viviam em pobreza e sob rígidos regulamentos. Trabalhavam como copistas da Escritura, fabricavam peças de cerâmica. A história dos essênios foi melhor conhecida a partir de 1947 quando foram descobertas as Grutas de Qumran, região onde eles viveram até serem massacrados pelos romanos no ano 68 dC (A palavra essênios significa piedosos em hebraico). Para eles, todo o AT era palavra de Deus, mas também eram sagrados os livros da seita (O Rolo da guerra e A Regra da Comunidade). Esperavam um Messias de Davi e também um Messias de Aarão. Consideravam-se os legítimos herdeiros da Aliança; não aceitavam os sacrifícios cruentos, que substituíam pela santidade de vida. São tradicionalistas na observância das leis da Pureza legal. São os únicos puros, piedosos. Consideravam-se o exército de Deus, sempre prontos para a Guerra contra os pagãos e os judeus infiéis, Por isso tinha a cartilha de guerra chamada “O rolo  da Guerra”. Devido a isso é que foram atacados e aniquilados  pelos romanos.
Essa era a moldura sócio-político-religiosa do contexto histórico onde atuou Jesus. Por isso sua prática vai ser de fato contrastante; ele vai ter prnojeção, vai gerar antipatias, vingança e morte. Sua postura é realmente subversiva, porque subvertia os “valores” da sociedade de então. Jesus, deveras,  caminhava na contramão.
Os evangelistas quando escrevem seus relatos têm esse quadro histórico como pano de fundo. E muito mais, pois escrevem bem depois do evento-Jesus Cristo, quando as Comunidades cristãs embora já caminhando , começavam  encontrar as primeiras dificuldades, os primeiros problemas. Os evangelistas procuram responder às comunidades apresentando-lhe a mensagem de Jesus Cristo de acordo com a necessidade e problemas de cada  uma delas. Por isso a ótica, a intenção teológica, os destinatários, são elementos importantes também a serem considerados na análise e interpretação de  cada um dos evangelhos.


1ª. PARTE: OS EVANGELHOS SINÓTICOS
 1. O problema sinótico
 A palavra sinótico quer dizer “olhar junto”, “ver simultaneamente”. A expressão “problema sinótico” se refere aos três primeiros evangelhos: Mateus, Marcos e Lucas. As narrativas e os discursos de Jesus em Mateus, Marcos e Lucas têm muita semelhança entre si e que se fossem colocadas em colunas paralelas poderiam ser lidas comparadas num relance, num só olhar. Um mesmo fato, um mesmo dito evangélico pode ter uma forma dupla ou tripla. Há concordância e discordância entre eles ao relatarem determinado fato ou dito de Jesus. A esse texto ajeitado assim, dá-se o nome de sinopse, que quer dizer em grego “ver simultaneamente”. Daqui, a palavra sinótico.
A pergunta que fazem os biblistas é esta: qual dos três evangelhos é  o primeiro? Qual é a origem deles?
A difícil resposta é que constitui o “problema sinótico” porque até hoje ninguém conseguiu explicar, de vez, a origem dos evangelhos. Alguns autores dizem que “esse problema não é apenas acadêmico pois sua solução é de real interesse para se conhecer os evangelhos” (cf. por ex. W.J. Harrington, Chave para Bíblia, p. 447). Por isso há muitas teorias no campo acadêmico, um verdadeiro emaranhado de hipóteses, sempre reformadas.  Mas concretamente vigora até hoje a Teoria das duas Fontes que parece explicar melhor a concordância e discordância entre os sinóticos. Sua forma é simples:
                                   Mc


 
                                                                       Q
                Mt

                                                                                              Lc
                                                                                 
           
A explicação simples: Marcos é o mais antigo dos evangelistas, como diz a tradição. Mateus e Lucas dependem de Marcos, mas são independentes entre si (um não copia do outro).  A concordância que há entre Mt e Lc e que não há em Marcos é explicada pela existência de uma Fonte especial, que os especialistas chama de  Q (da palavra Quelle em alemão, que significa fonte).
Até hoje a coisa está nesse pé; quanto à reconstrução dessa Q (fonte) não há dois autores que concordem entre si.

                        O importante é que os Evangelhos estão aí e serão sempre eles a Fonte que está correndo e matando a sede espiritual da humanidade há mais de dois milênios. Saber donde vem a água, onde é o nascedouro é interessante mas não necessariamente necessário.

                        O Evangelho de João não é sinótico porque segue um caminho próprio. É um evangelho bem posterior aos outros três e é um evangelho teológico, com grandes e belos discursos de Jesus. Tem pouca coisa em comum com os sinóticos.

2. O Evangelho de Mateus

 Mateus é o primeiro dos três evangelhos chamados sinóticos. Embora os três concordem em grande parte, todavia – como foi dito - os sinóticos apresentam grandes diferenças. Eles concordam mais no conteúdo narrativo, isto é, todos falam da vida de Jesus: paixão, morte e ressurreição.  Discordam quanto a certos fatos: um narra, outro omite ou contam de maneira diferente. Por ex. Mateus fala que a anunciação foi feita a José (1,18-25);  Lucas fala que foi para Maria (2,26ss). Somente Lucas fala da Visitação a Isabel (1,39ss); somente Marcos narra a cura do cego de Betsaida (8,22-26). Outro exemplo de discordância pode ser o relato das tentações de Jesus. Mateus diz  que Jesus foi tentado no deserto, no pináculo (ponto mais alto) do Templo e num monte (4,1-11);  Lucas diz que foi no deserto, num lugar alto e em Jerusalém (4,1-13). Marcos só fala de uma tentação: Jesus foi tentado no deserto (1,12-13). E muitos outros detalhes.
                        É bom observar: o evangelho de Marcos tem 661 versículos.  Desses, 523 estão em Mateus e 364 em Lucas.
                        O primeiro evangelho - não como prioridade histórica, mas conforme a ordem do cânon do NT -   é atribuído a Mateus. Foi a tradição que o atribuiu.
                        Hoje em dia, é aceito que esse evangelho foi escrito na cidade de Antioquia nos anos 80 dC. Pelo texto transparece que seu autor é um judeu-cristão helenista (de fala e de cultura grega), que conhecia muito bem a Bíblia hebraica (na tradução grega chamada Bíblia dos“Setenta”),  bem como conhecia  as tradições cristãs já existentes.  O texto parece não ser obra de um autor mas de uma escola, ou autores, já que o evangelho é escrito depois de quase cinqüenta anos de tradição  oral.  Nesse projeto entraram centenas de testemunhas da vida e obra de Cristo; gente que vivia nas comunidade da Galiléia, da Síria e de Antioquia.

2.1.  Mateus: o primeiro que escreve

O evangelho de Mateus aparece na segunda geração cristã. Nesse tempo, anos 80, já tinham morrido quase todos os apóstolos e os  primeiros discípulos de Jesus.  Enquanto eles estavam vivos, a tradição evangélica estava garantida com o testemunho deles. Agora que a comunidade se distanciava no tempo das origens apostólicas, era preciso  escrever  aquela tradição, colocá-la por escrito. Essa tarefa é assumida pela segunda e terceira gerações pós Cristo. Essas gerações são chamadas sub-apostólicas (do ano 70 ao ano 135 dC). E foi Mateus o primeiro que teve a iniciativa de escrever a tradição. Usou para tanto a tradição oral, chamada na linguagem bíblica “tradição Q”, como foi assinalado acima.   Essa fonte é uma proposta de estudo feita por um exegeta alemão, Schleimacher, para explicar a origem dos evangelhos.

2.2  Contexto histórico do surgimento do evangelho de Mateus

Já foi dito que o motivo primeiro de Mateus ao escrever, foi o de poder passar para as gerações futuras a tradição sobre Jesus. Esse foi o motivo principal.  Mas o motivo imediato ou condicionador foi histórico-teológico, como se pode ver.
No ano 70 dC a cidade de Jerusalém foi destruída pelos romanos. Desaparece a nação judaica, o Israel bíblico. E com a nação desaparecem também seus dirigentes, sacerdotes, saduceus  e o grupo de monges  de Qumran. O único grupo que se salvou foi o dos fariseus, que era muito grande. Seus escribas salvaram a Torá e fundaram em Jâmnia uma Escola Bíblica para aprofundar a Palavra de Deus.  Esse grupo dá origem ao “Judaísmo rabínico  (Judaísmo dos  “mestres”  ou “rabi”).  Nesse tempo surgem os comentários da Torá, chamados Misná e Talmud ( Misná, vem do verbo shaná, em hebraico, que significa repetir. Misná é o conjunto das tradições orais, transmitidas e repetidas para os alunos. E Talmud significa estudo, ensinamento. Designa o conjunto  escrito das explicações e tradições sobre a Lei. É a Misná escrita. Foi  fixado entre os séculos IV-VI dC.)
Essas tradições orais e escritas (Misná e Talmud) acabaram formando um novo tipo de religião. Porque, se antes da destruição da cidade havia uma multiplicidade de grupos que  interpretavam a Torá ( sacerdotes, escribas, fariseus,  zelotas , movimentos messiânicos etc.),  agora, com o judaísmo rabínico, havia uma e única interpretação da Lei: a deles  - fariseus rabinos.   Eles se apresentavam como a reconstrução autêntica e legítima da tradição de Israel.
Contra essa arbitrariedade é que se opuseram os rabinos cristãos.  Para eles, Jesus era o Messias e Filho de Deus, e que deu sentido definitivo á história de Israel. Desse modo, nesse tempo, se  contrapõem duas escolas que querem representar o verdadeiro Israel: a de Jâmnia (rabinos fariseus) e a dos rabinos cristãos da Palestina e Síria. O Evangelho de Mateus nasce nesse tempo, proveniente certamente dessa escola dos rabinos cristãos, que queriam mostrar sua identidade e preservar a história e a memória de Jesus.
A atribuição da autoria do evangelho a Mateus procede da tradição, como se disse, e do testemunho de Pápias,  bispo de Hierápolis  (+138), que escreveu: “Mateus colecionou (ou escreveu) os lóghia (= pequenos textos), que cada um  traduziu (ou interpretou) como podia”.  [Esse texto está na História Eclesiástica, de Euzébio  (HE 3,39)    conservado na Patrologia Grega (20, 300)].  Embora  atribuído a Mateus o livro é certamente fruto do grupo de Mateus,  formado por judeus cristãos,  conhecedores e observantes da Lei, por judeus helenistas  (gregos) não apegados à Lei, e por  não-judeus.  Esse sincretismo teológico trazia de fato problemas para a Comunidade.  Os conflitos iam surgindo. Diante disso o grupo de Mateus resolveu escrever um texto para tentar mediar as posições de cada grupo e acertar uma conciliação. O texto, então, vai falar da Lei de Moisés  como algo válido somente  a partir da prática do amor ao próximo. A Lei não pode sufocar. Teve seu papel; agora a lei é outra. Doutro lado ninguém pode desprezar a Lei de Moisés, pois Jesus veio para aperfeiçoá-la e não para destruí-la (Mateus 5,17). Os conflitos internos e os externos com o Judaísmo  rabínico foram os motivos maiores que levaram o grupo de Mateus a escrever esse Evangelho.  Os conflitos com o Judaísmo rabínico provocaram a perseguição aos grupos cristãos, que foram expulsos das sinagogas  (Mateus 10,17-23; João 9) O capítulo 23 de Mateus, por exemplo, apresenta Jesus atacando duramente os líderes judaicos. Certamente não falou desse modo, mas foi colocado nos lábios de Jesus uma condenação dos líderes judaicos, uma vez que eles faziam historicamente oposição a Jesus.
O evangelho de Mateus retrata esse contexto de conflitos internos e externos.
 2.3   Qual a finalidade do livro de Mateus ?
O livro quer dar respostas às comunidades cristãs, das quais Mateus participava, ou que dirigia. Respostas aos desafios apresentados pelos conflitos internos e externos. De modo especial o livro fala dos conflitos com o judaísmo sobre a interpretação da Lei, fala sobre  o messianismo de Jesus, sobre a justiça nova, sobre a comunidade como Povo de Deus, sobre a organização dessa Comunidade e sua vida interna e sobre sua abertura ao mundo.
Judaísmo rabínico e a Lei
No tempo de Mateus era forte a oposição entre o Judaísmo e as comunidades cristãs, como foi lembrado. Como não existia mais o Templo, nem sacerdócio, os fariseus rabinos, de um lado, se apegaram à interpretação tradicional da  Lei, privilegiando a tradição oral. Eram eles agora os verdadeiros intérpretes.   Doutro lado, os cristãos afirmavam que Jesus era o Messias esperado, e era ele o verdadeiro intérprete da Lei. O capítulo 23 de Mateus, como se disse, é um exemplo de como os cristãos deveriam interpretar a Lei: nunca seguir o exemplo dos líderes judeus. E afirmavam os cristãos que Jesus era o Messias  prometido  e provavam isso mostrando  terem sido realizadas  nele  as profecias do Antigo Testamento.  Os conflitos e as grandes polêmicas entre os dois grupos, são constantes no evangelho de Mateus. Um exemplo muito claro é a polêmica  sobre a ressurreição de Jesus: os rabinos espalharam  o boato de que os discípulos é que haviam roubado o cadáver de Jesus e por isso a ressurreição era mentira. De seu lado os cristãos acusavam os rabinos de terem corrompido com dinheiro os guardas do sepulcro para não confirmarem a ressurreição, que de fato acontecera ( 28,11-15).

O messianismo de Jesus
Para o Judaísmo de então o Messias viria somente quando todos observassem a Lei. O Messias seria o grande intérprete da Lei. Para os cristãos o Messias já tinha vindo: era Jesus. Daí que o evangelho de Mateus é cheio de citações dos profetas, sobretudo de Isaías. Nos mínimos detalhes eles querem provar o messianismo de Jesus. Ele era o enviado, o esperado. Por isso a Comunidade de Jesus era agora o verdadeiro Israel e não mais o Israel dos fariseus e rabinos. Jesus é o novo Moisés, ele dá a nova lei. Ele é o Deus conosco (1,23; 18,20; 28,20). Ele veio para perdoar  e salvar. Ele revela o rosto de Deus, que é misericórdia e perdão e que ama a todos (5,45). Ele olha o coração e não a Lei : “quero misericórdia e não sacrifício...” (9,13; 12, 27); Jesus vê seu povo abandonado pelos dirigentes e pede pastores para Israel (9,36); alimenta seu povo (15,32), perdoa (18,27) cura (20,34) e ensina que amar a Deus e ao próximo são duas faces da mesma moeda (22,40).
Sobre a Lei
Há uma insistência grande de Mateus sobre a verdadeira interpretação da Lei: a Lei deve levar à vida e não à morte. É o que Jesus ensina (12,1-8; 15,1-20; 22,34-40) A Lei  deve  levar à  misericórdia, ao amor, uma Lei praticada (5,19) e não ser  apenas uma tradição a ser conhecida.
A nova justiça
A conquista do Reino está fundamentada na prática de uma nova justiça: não mais a antiga que se baseava apenas na observância material da Lei, mas na prática real da misericórdia e do amor.  A nova justiça  exige fazer as obras da Lei e não apenas ouvir (7,24-27); ensinar e fazer. É a prática que distingue  o verdadeiro discípulo do falso; pelos frutos se conhece a árvore (7,15-20).
O Novo Povo de Deus
Mateus é o único dos evangelistas a usar a palavra “Igreja” (16,18; 18,17). A comunidade cristã, a Igreja, é  agora o novo povo de Deus, o novo Israel. Por isso Jesus escolhe Doze apóstolos como base da Igreja (10,1), como as Doze tribos eram a base do antigo Israel. Em Pedro, como autoridade nascida da fé no Ressuscitado,  está o fundamento dessa Igreja (16,18-20).
Diferentemente do Judaísmo rabínico que era fechado em si, a nova Comunidade é aberta a todos: judeus, não judeus, pagãos. Todo aquele que aceitar e aderir a Jesus Cristo é membro desse novo povo. Uma comunidade de santos e pecadores, trigo e joio, (13,224-30.36-43);  ela é a rede que recolhe todo tipo de peixes (13, 47-50). Igreja e Reino não são a mesma coisa: a Igreja está no tempo e é preparação para o Reino.
Uma Igreja celebrativa
No Evangelho de Mateus aparecem os elementos essenciais dos sacramentos da Igreja. Como rito de iniciação ao seguimento de Jesus, há o batismo (28,19); a multiplicação dos pães lembra a Ceia do Senhor (14,19; 15,36) e a prática eucarística aparece no rito do Última Ceia (26,26-29). O perdão dos pecados aparece na cena da cura do paralítico em Cafarnaum (9,6); esse poder é repassado à Comunidade (18,18). Os membros da Comunidade são chamados a vive o amor humano dentro da comunhão indissolúvel  do matrimônio (19,1-9). O celibato pelo Reino é um valor (19,10-12).
Parece ter sido essa finalidade por que Mateus escreveu seu Evangelho.
2.4  O conteúdo doutrinal
            O Evangelho de Mateus é essencialmente um evangelho da Comunidade do Senhor Ressuscitado. É um texto de catequese pra as primeiras comunidades. É o evangelho da Igreja. Jesus, no evangelho de Mateus é aquele que propõe a vida em comunidade como uma das maneiras privilegiadas de perpetuar sua memória-presença. Ele está vivo no meio de nós. Ele veio semear o Reino de Deus.
O evangelho de Mateus era um texto de catequese da comunidade que vivia a fé no meio de tantos problemas internos (comunidade em organização) e externos (conflitos com os judeus).  Nesse tempo já circulava o evangelho de Marcos. Por isso 80% do evangelho de Marcos está em Mateus (523 versículos).
Esse evangelho é uma catequese para a igreja primitiva, catequese  organizada em cinco livrinhos (conferir na sua Bíblia). Cada livrinho contém uma narrativa sobre Jesus e um discurso (pregação) de Jesus. Ao todo temos 10 partes: 5 narrativas e 5 discursos. Fica claro que Mateus está fazendo um livro como o Pentateuco (o livro da Lei, que era composto de cinco partes). Ele quer ensinar que a Lei agora é outra, o Evangelho é o novo Pentateuco.
 Esse evangelho foi vivido na Comunidade de Mateus, que era constituída por:
- Judeus que observavam ainda a lei de Moisés
- Judeus cristãos, não mais apegados à Lei de Moisés e ao templo
- Não-judeus (pagãos convertidos, batizados).
Por isso havia conflitos internos, principalmente esse: deve-se observar a Lei de Moisés integralmente ou seguir Jesus Cristo, que libertou da Lei?
Mateus faz uma mediação: a Lei vale em relação ao que ensina sobre a prática do amor ao próximo (Levítico 19,18 e Êxodo 20,2-6). Jesus não  anulou a Lei mas deu-lhe novo rumo: a misericórdia e o perdão sempre (9,13 e 12,7: Eu quero misericórdia e não sacrifícios). O discípulo deve observar a Lei naquilo que ela ajuda a viver bem.
Havia também conflitos externos  com o Judaísmo por causa da não-observância  total da Lei pelos discípulos de Jesus. Esses conflitos por causa das duas correntes em relação à observância da Lei levou os judeus cristãos a serem expulsos das sinagogas pelos chefes do Judaísmo.(10,17-23 e João 9).
O evangelho de Mateus foi escrito nesse clima de brigas.  Por isso o capítulo 23 é uma forte acusação de Jesus contra os líderes judeus.
Diante das tensões Mateus procura clarear alguns pontos e fazer uma catequese para sua comunidade.
2.4.1        1.º tema da catequese: quem é Jesus? Ele é o Messias.
Em Jesus Messias se realizaram as profecias do Antigo Testamento.
                  O livro de Mateus nasceu em ambiente judaico, como se viu. Foi um escrito destinado às comunidades  dele com a finalidade de  mostrar o  messianismo de Jesus, e também  dar  certo embasamento histórico e teológico  aos novos cristãos diante da perseguição e da hostilidade do  rabinismo.  Por isso a perspectiva doutrinal do evangelho de Mateus tem raízes no Antigo Testamento e se projeta para o futuro. Mateus busca no Antigo Testamento as bases para falar do Messias, de sua doutrina e obra. Lança para o futuro, numa dimensão eclesial, a realização das promessas messiânicas
                        Bases no passado:
                        Jesus é o Messias enviado; é filho  de Abraão (1,1) e descendente de Davi ( 1,1 e 2Samuel 7,4-17). Nele cumprem-se as profecias do passado:
n nasce de uma virgem (1,23 = Isaías 7,14)
n em Belém de Judá ( 2,5 = Miquéias 5,2)
n foi para o Egito e de lá voltou (2,15 = Oséias 11,1)
n por causa dele morrem inocentes crianças (2,17-18 = Jeremias 31,15)
n vai morar em Nazaré (2,23 )
n entrará em Jerusalém (21,4-5  =  Zacarias 9,9; Isaías 62,11)
n é traído por trinta moedas (27,9-10  = Jeremias 32,6-10 e Zacarias 11,12-13).
                        Também suas obras realizam as profecias do passado:  Mt 8,16-17 = Isaías 53,4; Mt 12,15-20 = Isaías 42,1-4; e seus ensinamentos serão feitos em parábolas: 13,35  =  Salmo 78,2.
                        Crise no presente.
                        Para Mateus o cumprimento dessas profecias se realizam no seio do povo eleito que não aceita e nem Jesus e nem acredita nele e nem em sua obra ! Rejeita-o (11,20-24) e atribui seus milagres a Belzebu (12,24-37). Mateus destaca  essa rejeição com a parábola dos vinhateiros assassinos (21,33-45). E na palavra do povo a Pilatos: “que seu sangue caia sobre nós e sobre os nossos filhos” (27,25).

                        Projeção para o futuro
                        A rejeição de Jesus pelo povo faz o Reino de Deus passar para outro povo (21,43): o novo povo, a Igreja.  Esse povo do futuro será   instituído (16,16-18), terá uma estrutura comunitária (18) e será um povo universal (28,19). Todos os povos sentar-se-ão à mesa de Abraão como filhos do Reino (8,11-12) ocupando o lugar dos convidados -  que não foram dignos (22,8ss). Esse povo realizará no mundo a missão de anunciar Jesus Cristo (28,19-20). Essa é a justiça de Deus (3,15).
Como se vê o livro fala dos conflitos com o judaísmo sobre a interpretação da Lei e  quer mostrar que o  Jesus é o Messias,  que o Sermão da montanha é agora a nova Lei, que a justiça  agora é nova, e que a Igreja de Cristo constitui o novo Povo de Deus.
2.4.2.  O que é a Lei   
                       Mateus insiste muito sobre o tema da Lei. Porque os fariseus e escribas interpretavam a Lei de Deus conforme a cabeça deles. Não se importavam se a Lei fora dada para defender a vida. Isso fica claro em 12,9-14 quando eles querem impedir Jesus de curar a mão paralisada de um homem, por ser sábado. Jesus pergunta diante do povo: “É permitido ou não fazer uma boa ação em dia de sábado? Eles não souberam responder e nem o podiam fazer por causa do povo. Jesus cura o homem e di: “Se uma ovelha de vocês cair num buraco no dia de sábado por acaso vocês não a tiram de lá? Ora, uma pessoa vale muito mais que uma ovelha”. Jesus redimensiona o valor de Lei.
                        Jesus ensina por Mateus que a Lei tem base na misericórdia e no amor. Sem isso qualquer lei perde seu valor.

2.4.3        Igreja, novo povo de Deus
Mateus é único evangelista a usar o termo Igreja para designa o novo Povo de Deus (16,18;18,17) . A Igreja é agora o Novo Israel. Por isso Jesus escolhe os 12 apóstolos  para substituírem as 12 tribos de Judá e coloca Pedro como o primeiro entre eles. Com isso Jesus deix (a entender que os escribas e fariseus que se faziam os únicos chefe ou dirigentes do povo, os únicos intérpretes da Leis, são  agora substituídos. O tempo deles acabou. O povo de Israel é um novo povo, por isso eles estão descartados.
Essa Igreja é formada por todos, bons e maus, joio e trigo (13,24-30.36-43. É rede que recolhe peixes bons e ruins (13,47-50). É santa e pecadora. É Deus quem fará a separação no juízo final. A Igreja está aqui no tempo.  Ela prepara para  o Reino definitivo que virá..
2.4.4        Igreja, Comunidade de irmãos, filhos de Deus Pai
Os capítulos 5-7 trazem o chamado Sermão da Montanha É um resumo dos ensinamentos de Jesus sobre o Reino de Deus e da transformação que esse reino opera nas pessoas. Esse ensinamentos são como regra  para todas as comunidades; visa Mateus instruir os membros da Comunidades sobre as relações entre si e na sua organização (5,22-24.47;7,3-5. Com isso os discípulos não devem ouvir mais os ensinamentos dos escribas e fariseus e muito menos fazer o que eles fazem.
2.4.5        O Sermão da montanha
É o primeiro grande discurso de Jesus; apresenta a prática de Jesus como base para o agir de toda a Igreja.
Mateus diz que Jesus subiu à montanha (5,1) como Moisés subira ao Sinai (Ex 19,3).  No Sinai (Ex 20) é dada a primeira Lei, os 10 Mandamentos;  na  montanha é dada a segunda Lei (as bem-aventuranças)Jesus substitui Moisés E ao contrário da doação da antiga Lei- quando o povo foi impedido de se aproximar de Deus e de Moisés, agora o novo povo se aproxima para ouvir da boca de Jesus, o Filho de Deus, a Nova Lei. O povo novo substitui o antigo; a Lei sinaítica (Torá)  é substituída pela Nova aliança (26,28).
Mateus coloca então as oito bem-aventuranças (a Nova Lei)
.“Felizes os pobres em espírito porque deles é o Reino dos  céus (5,1).
Essa primeira bem-aventurança se refere as pobres em espírito ou com o espírito. “Espírito”,  para o povo hebreus indicava uma força vital, presença de Deus na pessoa.  Mateus se refere aos pobres de sua comunidade, todos eram carentes, perseguidos, vivendo em penúria com o mínimo necessário. Mas eles resistem porque têm a força de Deus. Esse pobres lembram dos pobres de quem fala o profeta Amós: “Escutem aqui, vocês ricos exploradores dos necessitados, opressores dos pobres deste país. Vocês que dizem: quando vai passar o sábado para podermos abrir os armazéns para diminuir as medidas, aumentar o peso e viciar as balanças; para comprar os fracos por dinheiro e o necessitado por um par de sandálias”
Esses pobres, como tantos no mundo vivem na penúria, oprimidos, eles não têm mais nada a perder e não têm a quem recorrer, não têm mais esperança na justiça dos homens. Por isso resta-lhes esperar em Deus, como nós dizemos: “Deus fará Justiça”! Se os grandes escapam da justiça da terra, não escaparão da justiça de Deus
Essa bem-aventurança não diz que tais pobres são felizes porque não são; diz que o desapego deles, sim,  é exemplo para a Comunidade de Mateus, e para os que desejavam abraçar o caminho da pobreza evangélica como modo alternativo diante
do fausto do império romano. É feliz o pobre que rompe com  o espírito de riqueza, de posse, que  deixando Deus adora os ídolos da riqueza oprimindo pequenos. O desapego deles, a solidariedade deles entre si é o grande testemunho num marcado pela ânsia do poder e do possuir.          
                                   As três bem-aventuranças seguintes se referem  àqueles que precisam e  lutam por libertação.
                                   “Felizes os aflitos porque serão consolados” (5,4).
 Algumas Bíblias traduzem por “felizes os que choram”, porque  verbo grego usado significa afligir-se com lágrimas. O povo de Deus se afligiu muito com a opressão sofrida no Egito, com a caminhada no deserto, com as tentações, com as lutas internas e externas na caminhada. Mas uma esperança o animava conquistaria a Terra prometida (Ex. 1; 6-14; 13, 31-33; 20,12-13).   A bem-aventurança não proclama o fim da aflição, mas declara felizes os “aflitos” Porque a fé cristã muda a tristeza em alegria. A aflição não é beatificada, mas os aflitos sabem que suas lágrimas  uma dia vão-se transformar em alegria. Os aflitos são os mesmo pobres de espírito, isto é os pobres de Javé, carentes, sem esperança, desprotegidos. Só podem contar com Deus – que um dia lhe enxugará todas as lágrimas como diz Apocalipse 7,17.
Felizes  os mansos, porque possuirão a terra (5,5).
Mansidão é o contrário da violência. Mansos são aqueles que não reagem à violência com violência, mas com protestos indignação, firme resistência. Eles possuirão não a terra material, mas a serenidade, a situação de liberdade e independência.
“Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados” (5,6)
A luta pela justiça deve ser constante. O pior pecado do mundo é a injustiça praticada principalmente contra os pequenos, pobres. Aquele que luta por seus direitos e pelo direito dos outros, alcançarão seu objetivo; se não conseguem mudar de imediato uma situação, terão a satisfação de ter lutado e deixado preocupação na vida dos injustos e opressores. Sem justiça não há vida. O Reino de Deus se constrói com essa violência, luta inconformada  do discípulo.
 As outras quatro bem-aventuranças indicam o comportamento cristão diante da necessidade do próximo
Felizes os que são misericordiosos porque alcançarão misericórdia” (5,7
Não se trata de piedade, dó ou  sentimento mas de solidariedade, da prática da justiça e da misericórdia para com todos. É sentir com o outro, ter coração aberto ao outro. Ser misericordioso é ter o coração de Deus. Ele é sempre misericórdia e perdão.  Nós seremos julgados pela solidariedade e misericórdia, perdão e amor que tivemos  os outros. Teremos também misericórdia.
“Felizes os puros de coração porque verão a Deus (5,8)
Puros aqui não tem conotação alguma com pureza moral, castidade, mas de retos de intenção, de integridade. Isso cria relações  de confiança mútua porque há transparência Quem age assim está como que diante da face de Deus (verão a Deus), sem medo, como diz o salmo 11,7: “os corações retos contemplarão a face de Deus”.
Essa bem-aventurança mostra que o nosso relacionamento dom Deus não se dá somente pela religião, pelo Templo; não é somente ali que se pode ver Deus, mas o vemos também na pessoa do próximo, no relacionamento limpo, fraterno com os outros. “Onde dois ou três estiverem reunidos eu estarei no meio deles”.(18,19-20).      
“Felizes os que promovem a paz porque serão chamados filhos de Deus” (5,9)
É filho de Deus todo aquele que promove a justiça, o direito, a paz, porque Deus é a Paz.  Paz é o conjunto de todos os bens. E é isso que Deus quer para todos. Aquele que luta por essa paz universal é realmente um filho de Deus e sentirá grande felicidade pessoal e coletiva porque estará agindo de maneira semelhante ao Pai do Céu que é o construtor da verdadeira paz. Não a do mundo mas a de Cristo.
Felizes os que são perseguidos por causa da justiça porque deles é o Reino dos céus” (5,10.
Essa bem-aventurança completa a primeira, pois tanto na 1.ª como nesta a conclusão é  a  mesma: “deles é Reino dos céus”. Os que promovem a justiça, que lutam pela justiça (5,6) incomodam os que  detêm  o poder. O incômodo leva à perseguição, física, moral, psicológica. O justo sempre incomoda, diz o salmo 54,5: “Os soberbos se levantam contra mim e os violentos perseguem a minha vida”.
Mateus acentua essa bem-aventurança porque sua comunidade deveria já estar sofrendo perseguição. Ele quer animá-la e incentivá-la a resistir. Essa bem-aventurança se liga à primeira. O Reinado de Deus é construído aqui pelo testemunho das comunidades pobres e perseguidas. Elas são o sal e a luz do mundo (5,13-14).
2.4.6        O Pai Nosso (6,7-13)
                        É a oração ensinada pelo Senhor. Ela é precedida por instruções de Jesus sobre a busca da justiça, da misericórdia, das relações fraternas em nível de Comunidade.  E em nível pessoal pela limpeza de coração através de obras de piedade como a esmola, o  jejum e a oração.
                        A esmola: não é gesto de poder de quem tem mais e dá porque sobra, ou dá para aparecer. Essa esmola humilha. Deve ser gesto de responsável partilha. O que temos foi Deus quem nos deu e nos deu para partilhar e não reter. Dar esmola para satisfazer a própria vaidade é gesto sem valor diante de Deus: já receberam a recompensa. É um pecado contra a bem-aventurança dos “puros de coração”.
                        O jejum: é privar-se de alimentos imediatos e necessários; é obra de piedade e de purificação interior, pessoal. Não pode ser manifestação externa para ser notada.  Isso é puro farisaísmo.  O jejum deve ser gesto de solidariedade com o próximo  que não tem o que comer! Dar ao outro não sobras mas uma comida integral, necessária, como gesto de uma privação pessoal.
                        A oração:  Não é uma promoção pessoal como era para os fariseus, mas ato de relacionamento com Deus. É preciso superar a justiça dos fariseus que era hipócrita, aparente, e ser um contato limpo, sincero, aberto de diálogo co Deus que é Pai.
Mateus aproveita esse tema da oração e inclui aqui a Oração do Senhor, contrapondo a oração cristã à oração dos fariseus e pagãos. O Pai Nosso mostra a simplicidade e a intimidade do homem com Deus.  São sete pedidos em função da vida.       
Os três primeiros se referem ao relacionamento com Deus Pai, fonte de vida de toda a criação. Que o seu Nome (Pessoa) seja santificado, usado na fé, abençoado; que a missão da Comunidade construindo o Reino realize a sua vontade.   Os outros quatro pedidos  se referem à vida  cotidiana da comunidade: o pão (6,11), o perdão das dívidas; não deixar a comunidade cair na tentação de repetir o erro de apegar-se aos bens, e  livrar a todos do maligno.
Na 1.ª parte pede-se que Deus manifeste seu projeto de salvação; na 2.ª , pede-se o essencial para que o homem possa viver segundo o projeto de Deus: pão, bom relacionamento com todos, e perseverança até o fim.                       
1’“ O Pai-Nosso é o salmo que Jesus nos deixou. É uma cartilha na qual ele resume todo o seu ensinamento em forma de prece dirigida ao Pai..Nela  Jesus retoma as grandes promessas do Antigo Testamento e pede que o Pai nos ajude a realizá-las. Os primeiros três pedidos dizem respeito ao relacionamento com Deus. Os outros quatro, ao relacionamento entre nós. Vejamos de perto essa oração que todos nós conhecemos. Vamos seguir aversão mais comprida de Mateus. O 3.º e o 7.º pedidos não se encontram na versão mais breve de Lucas.
Introdução: Pai Nosso
            1.º pedido : Santificado seja o vosso Nome
            2.º pedido : Vinda do Reino
            3.º pedido : Realização da Vontade
            4.º pedido : Pão de cada dia
            5.º pedido : Perdão das dívidas
            6.º pedido : Não cair em tentação
7.º pedido: Libertação do Maligno
Pai Nosso: exprime o novo relacionamento com Deus,  a partir da experiência de Jesus com Deus como Pai. Se Deus é Pai nós todos somos irmãos e irmãs uns dos outros. Esse é o fundamento de nossa fraternidade como cristãos.
1.      Santificar o nome: o nome de Javé é santificado quando usado com fé e não com magia; quando usado, não para a opressão, mas sim para a libertação do povo e a construção do Reino. Não profanar o que é sagrado.
2.      Vinda do Reino: É a realização de todas as esperanças e promessas do Antigo Testamento. É a superação das frustrações que o Povo de Deus teve com os seus  reis e governos humanos (Israel e  hoje). É  ter amor, vida feliz, vida plena. Esse reino acontecerá, quando a vontade de Deus for plenamente realizada.
3.      Fazer a vontade: A vontade de Deus está expressa na sua Lei. No céu, o sol e as estrelas obedecem à lei de Deus, e assim se cria a ordem do universo. A lei de Deus, também,  quando observada “assim na terra como no céu” será fonte de ordem e bem-estar para a vida de todos.
4.      Pão de cada dia:  Nos 40 anos de deserto o povo recebia o maná.  Jesus nos convida para realizar um novo êxodo, uma nova maneira de convivência fraterna que possa garantir o pão para todos. A Providência divina  não é paternalismo, passa pela organização fraterna, pela partilha.
5.      Perdão das dívidas : a  cada 50 anos, o Ano  Jubilar hebraico obrigava as pessoas a perdoar as dívidas.  Jesus anuncia um novo ano jubilar: um “Ano de graça da parte do Senhor” (Lc 4,19). Ele quer recomeçar tudo de novo! Restituir aos pobres os direitos roubados. (As dívidas externas  dos países pobres que não são perdoadas pelos países ricos!).
6.      Não cair em tentação.   No antigo êxodo, o povo foi tentado e caiu. Murmurou e quis voltar atrás para as panelas do Egito (Ex. 16,3; 16.3).  No novo êxodo a tentação será superada pela força que o povo recebe de Deus através do Espírito de Jesus que venceu a tentação.
7.      Libertação do Maligno: O maligno  é  o satanás, a força que nos afasta do projeto de Deus. Pedro foi satanás para Jesus (Mt 16,23). Jesus venceu a tentação do satanás (Mt 4,1-11). O Espírito de Jesus nos ajuda, para que possamos vencer o poder do mal que estraga a vida”. (Fr. Carlos Mesters, Juventude- Jornal da PJ, janeiro 1999).

 2.4.7   As parábolas
A parábola é um modo de falar  para ensinar uma verdade, transmitir uma mensagem usando comparações. Jesus usou esse tipo de comunicação para realizar sua missão de Revelador do Pai, evangelizador do Reino, libertador dos pobres.
A interpretação das parábolas deve ter em vista a evangelização. “A exegese não pode ser uma arte refinada sem relação com o povo de Deus. O exegeta deve ressaltar o valor da mensagem principal, que é uma mensagem religiosa, um chamado à conversão e uma boa-nova de salvação capaz de transformar a pessoa e a sociedade inteira, introduzindo-a na comunhão de vida” (João Paulo II).
As parábolas revelam a vinda do Reino de Deus, a missão de Jesus (o Salvador) e a vida nova no Espírito de filhos de um Pai misericordioso.
As parábolas nasceram do dia-a-dia do trabalho, da vida real.  São comparações feitas com fatos, histórias conhecidas, para que a pessoa que  as ouve possa descobrir por comparação o que Jesus queria ensinar sobre o Reino de Deus e tirar suas conclusões. A parábola nasce da vida. As parábolas de Jesus exigem que a pessoa tome uma posição. Elas realizam sua missão quando a pessoa tiver nova postura, novo relacionamento, nova vida.
O capitulo 13 traz sete parábolas: semeador, joio e trigo, mostarda, fermento, tesouro escondido, pérola preciosa e rede lançada ao mar. Todas elas indicando a implantação e o crescimento do Reino, dentro das dificuldades da vida, dos conflitos, tensões, resistências e perseguições. Com a paciência do semeador o discípulo deve ter uma paciência histórica para aguardar o resultado. De sua parte ser ele sempre sal e luz.
Há outras parábolas em Mateus, mas não são dirigidas ao povo; umas aos discípulos e  outras, num clima de conflito e ataque; Jesus as fez contra as autoridades judaicas. São essas: trabalhadores na vinha (Mt 20); os dois filhos (21,28), os vinicultores maus (21,33) o banquete nupcial (22,1-14) as virgens prudentes (25,1) e os talentos (25,21-30).
            E há ainda outro tipo de mensagem de Jesus semelhante  às parábolas. Podiam ser  chamadas de “parábolas morais” porque ensinam a partir de fatos reais  o modo de agir e de comportar-se do discípulo. Ilustram o modo de comportar-se dos filhos do Reino. Essas parábolas estão mais no evangelho de Lucas (fariseu/publicano (Lc 18,9), amigo inoportuno (11,5), juiz injusto (18,1), bom samaritano (10,30), ovelha perdida/filho pródigo (15,3), rico tolo (12,16), administrador esperto (16,1) e Lázaro e o rico (16,19).
            A primeira parábola de Mateus  é a do semeador que saiu para semear (13,3-9). É uma parábola que descreve a implantação do reino de Deus nos corações humanos. Proposta de Deus, resposta do homem. Parte da semente caiu em terra boa e produziu muito; outra parte caiu em terra ruim e não produziu nada. Os discípulos  não entenderam o que Jesus quis dizer e perguntaram. E Jesus diz que as pessoas simples, pequenas, pobres, boas  é que são o terreno bom onde a Palavra de Deus produz frutos. Eles são mais abertos e dispostos a lutar pelo Reino de Deus, pela justiça. Os fariseus, doutores da  lei, todos os que estão ligados ao espírito legalista deles e os ricos nem pensam nisso, são terra ruim, não produzem frutos. É preciso romper com esse passado alienante para poder seguir Jesus.
            Reino do céu, é como a semente pequenina, mas que cresce e se torna grande árvore  com o fermento da atuação dos discípulos (6,33). Aquilo que parece insignificante, como a semente, tem uma força  interior imensa que faz dela frondosa árvore. Assim o reino: começa insignificante (6,31-32) mas pode tornar-se grandioso.
2.4.8        Jesus é o Messias  (16,13-20)
Depois de um tempo pregando a Palavra, operando curas, instruindo o povo e os apóstolos, Jesus lhes pergunta o que é que o povo diz dele, quem é ele.
            O povo estava confundido pois uns achavam que ele era João Batista que tinha ressuscitado; outros achavam que era Elias ou Jeremias ou mesmo ou novo profeta.
            Como o povo nada sabia dele, Jesus pergunta aos seus discípulos, que conviviam com ele: “E vocês que andam comigo, quem vocês acham que eu sou”?
            Eles se calam constrangidos, mas Pedro toma a frente e responde:  “Tu és o Cristo, o Filho de Deus Vivo” (16,16).
            Com toda certeza Pedro não teria respondido assim, pois essa sua resposta é uma das maiores confissões de fé da Igreja primitiva e da comunidade de Mateus. Tal resposta contrariava toda expectativa de um  messias triunfante e vingador.
            Mateus tinha toda a tradição apostólica sobre o fato e sobre a fala de Pedro que sem dúvida respondera  pelos outros apóstolos dizendo que para eles Jesus devia ser o Messias enviado por Deus.  Mateus e sua comunidade fizeram essa elaboração teológica pós-pascal, quando Jesus Cristo já tinha ressuscitado,  acontecido a vinda do Espírito Santo e com o testemunho dos apóstolos e comunidades primitivas.
            Jesus, segundo Mateus, confirma esse testemunho de Pedro (16,17-18)  entendendo que com esse testemunho Pedro poderia ser o representante do grupo apostólico. Por isso lhe diz: “ Feliz és tu, Simão,filho de Jonas, porque não foi um ser humano que te revelou isso, mas o  eu Pai que está no céu. Por isso eu te digo: Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei aminha Igreja e o poder da morte  não a vencerá” (16,17-18).
            Esse versículos são próprios de Mateus. Estão somente no evangelho dele.
            Pedro representa a Comunidade  do novo Povo de Deus, e a  essa comunidade dos simples, dos pequenos  é quem Deus estava revelando a identidade de Jesus Cristo.
            Na sua resposta Jesus faz uma metáfora com o nome Pedro e palavra pedra ou rocha. Ele seria a rocha sobre a qual Jesus fundamentaria sua Comunidade ou Igreja (16,18). E os discípulos e fiéis são convidados para construírem suas vidas sobre essa rocha. Por Jesus, Pedro se torna a base dessa nova comunidade. Não foi ele quem fundou a Igreja, ele fundamenta a Igreja por sua fé e testemunho na ressurreição de Jesus.
            A partir dessa união de Comunidade e Rocha (autoridade) o povo de Deus pode caminhar com certeza  na vida e anunciar um novo tempo, uma nova vida trazida por Jesus.
            Pedro passa a ter na Comunidade apostólica um destaque maior que os demais apóstolos. Todos serão agora construtores do Reino. Pedro será a autoridade a dirigi-la, terá autoridade para receber na Comunidade outros membros e mesmo excluir aqueles que não querem se comprometer com a prática de Jesus  (ligar e desligar) (16,19-20).

                  2.4.9  A Transfiguração (17,1-9)
Após a profissão de fé de Pedro Jesus começa outra fase na sua vida com a Transfiguração. Vai mostrar o seu caminho: paixão, morte e ressurreição; caminho esse que todos os que se comprometem com ele devem fazer -  e a que Pedro se opôs (16,22) sendo chamado de satanás (16,23). Jesus vai ensinar que se chega á Glória pela cruz. A “glória de Deus”  que Jesus manifestou no Monte em sua transfiguração significa a manifestação de seu próprio Ser e grandeza na natureza, na História e na existência humana. Jesus foi a máxima manifestação da glória de Deus. No êxodo o rosto de Moisés se tornou brilhante pelo reflexo da glória de Deus ( Ex 34,29-30); no evangelho de Mt Jesus se torna todo brilhante ,transfigurado, como a coluna de luz no Êxodo, que iluminava o povo à noite (Ex 9,16).
A visão da glória é acompanhada prela voz que diz  “Escutai-o” – o que lembra a voz de Deus  no Antigo Testamento (Deuteronômio 6: Shemá Israel = Ouve, Israel).
Sua Glória é a luz que ilumina o caminho  que todos somos chamados a percorrer.  Com a Transfiguração Jesus mostra sua verdadeira face: a de Verdadeiro Filho de Deus.
 2.4.10   O maior no Reino do Céu (18,1-14)
a)  O primeiro desfio para quem quiser  entrar no Reino é preciso superar a tentação de poder, grandeza, glória, coisas do mundo. Por isso Jesus coloca uma criança como exemplo de vida para quiser ser maior no reino (18,1).  A criança é pura, simples, dependente, carente, sem preconceitos , sem ambições. Por isso quem escandalizar uma criança menosprezando-a, não acolhendo, precisa cortar  o mal pela raiz:  cortar a mão =converter o modo de agir; cortar o pé = endireitar a caminhada; arrancar o olho = mudar seu modo de ver as coisas... (ou se jogar no mar!!). Mateus coloca a parábola da ovelha perdida (18,12-14) para mostrar que a Comunidade deve sempre acolher aquelas pessoas que se perderam do rebanho, buscar quem se perdeu. E fazer uma revisão da Comunidade por ter isso acontecido. Isso acontecia já na Comunidade de Mateus e acontece hoje também. Tanta gente debanda da Igreja. Por que? Nossas comunidades devem se interrogar também. Um pouco (ou muita) culpa  nós temos.
b) Saber perdoar sempre. É outro desafio (18,21-35)
Nós vivemos em comunidade e a vida em fraternidade é desafio. Ele já assinalara a necessidade de não se escravizar  às tentações da riqueza, poder, glória, fala agora das relações humanas que implicam sempre conflitos, erros, pecados e precisa saber perdoar. Aqui a exigência de Jesus é muito forte: o ofendido é que deve procurar o ofensor e pedir-lhe desculpas (perdão), para facilitar a reconciliação. Segundo a tradição judaica essa atitude de perdoar devia ser tomada até quatro vezes. Pedro pensa que exagera dizendo a Jesus se pode perdoar até sete vezes. Ele não assimilara ainda a gratuidade do perdão que não se conta em vezes. Jesus responde que o perdão deve ser dado sem limites, ir muito além da vingança. A Comunidade cristã cresce no mútuo perdão (Romano 7). A vingança destrói, o perdão é uma face do amor que constrói.
12.   A vida está na semente (19-25)
É a parte final do evangelho de Mateus. Jesus vai confrontar-se com o poder multiplicado: judeu e romano e com as estruturas  decadentes do judaísmo (sacerdotes, templo, autoridades). O final é a perseguição, traição, paixão morte de Jesus. A semente é plantada. A vida renascerá: Ressurreição-missão.
     O Senhor Ressuscitou!  Ide pelo mundo e anunciai

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